sábado, 15 de dezembro de 2012

O Barro

Elemento primitivo da natureza, tão caro à história da humanidade, o barro está no alicerce do imaginário popular do Nordeste, do Brasil. É a matéria-prima que ajudou a traduzir em linguagem visual aquilo de que muito livro foi incapaz: a essência da população nordestina, expressa a partir de uma relação visceral homem-barro. As mãos responsáveis por essa interface têm nome e endereço - Vitalino Pereira dos Santos (1909 – 1963), de Caruaru. Falar da cidade agrestina, sem lembrar o legado artístico do mestre, é como citar o Rio de Janeiro sem o Cristo Redentor.


Seus boizinhos e, sobretudo, sua arte figurativa de "bonecos" ajudaram não só a fomentar uma escola que sobrevive e é massivamente reproduzida até hoje no Alto do Moura, celeiro dos ceramistas populares de Caruaru, como foram responsáveis também por colocar a capital do forró no mapa mundial (há peças de Vitalino no Museu do Louvre, em Paris, por exemplo). Também por isso suas peças de barro colaboraram com a construção da nossa identidade cultural - raro o brasileiro que nunca tenho visto uma delas na vida; são obras presentes no nosso inconsciente coletivo. É que, mais do que um artista, o ceramista foi um antropólogo visual; um cronista de sua época, de sua sociedade, muito embora tenha morrido analfabeto e com uma pobreza desproporcional à fama.